segunda-feira, 6 de março de 2017

O Quinze | Resenha

Livro: O Quinze        
- Publicado em 1930 
Autora: Raquel de Queiroz 

Quero iniciar minha participação neste espaço falando da obra de uma das mais importantes escritoras brasileiras, Raquel de Queiroz, primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras, em 1977. Então, achei pertinente  homenageá-la nesta semana em que se comemora, ou melhor, em que se amplia o debate sobre situação das mulheres no contexto social. O Quinze, foi escrito pela grande dama da literatura brasileira em 1928, aos 18 anos. Foi seu primeiro livro, e narra a grande seca de 1915 no nordeste do Brasil.
Publicado em 1930, O Quinze, é um romance regionalista de ficção, onde a autora retrata, com precisão, a vida dos sertanejos nordestinos  com a saga do vaqueiro Chico Bento, a mulher e seus cinco filhos; obrigados pela seca que assola o sertão, a abandonarem a fazenda em que viviam, e buscarem a sobrevivência em outro lugar.
Demonstrando um profundo conhecimento do universo em que situa sua história, a autora mostra, através dos seus personagens, que vai revelando suas minúcias, de forma sutil e muito bem construída, no contexto da narrativa; todos os ângulos sociais atingidos pelo mesmo drama: a falta de chuva. Conceição, moça culta e bem nascida criada pela avó, a quem chama de mãe Inácia, no começo da historia passa férias na fazenda da família no logradouro, próximo de Quixadá. Por sua insistência a avó concorda em acompanhá-la, à cidade, até que a seca termine. Leitora de livros feministas a moça se divide entre o trabalho de professora e a ajuda aos retirantes no campo de concentração. Com 22 anos e aparentemente, sem interesse em se casar e constituir família, Ceição nutre um interesse pelo primo Vicente, fazendeiro rude, que não mede esforços para manter o rebanho de gado que vai minguando com a falta de chuva.

Mesmo enamorados, o romance entre os primos não se desenvolve. Em uma de suas visitas ao campo a moça encontra uma conhecida que vivia na fazenda de Vicente que comenta o suposto relacionamento do rapaz com uma de suas agregadas. Com ciúmes, Ceição trata mal Vicente, quando este saudoso resolve visitá-la. Sem entender as ironias da professora o fazendeiro volta para casa sem confessar suas intenções românticas e  se vê envolvido no plano das irmãs para namorar uma de suas amigas.
Mas, é com a trajetória de Chico Bento e sua família pelo sertão que a autora revela o lado cruel da falta de chuva. O sofrimento do total desamparo é descrito no desfacelamento da família que vai perdendo seus membros pelo caminho. A primeira baixa é a cunhada de Chico que resolve ficar numa das paradas de trem para servir café para os viajantes.
Quando se viu obrigado a deixar a propriedade que trabalhava e se lançar no mundo com os seus em busca de uma nova vida, Chico Bento decide ir para o norte trabalhar na extração da borracha, para isso troca suas rês por uma mula, junta o pouco que tem e inicia a viagem a pé. No começo ainda tinha o que comer, mas, com o passar dos dias, e num rompante de generosidade, divide a comida com um grupo de retirantes que encontra, tentando comer os restos de uma vaca já em decomposição para matar a fome. A partir daí, fica por conta das bênçãos divinas. A fome aumenta e ele se vê pela primeira vez na vida lançando mão do alheio. Ao encontrar uma cabra no caminho resolve matar o animal. O dono aparece, toma a carne, e só deixa as tripas do bicho para a família esfomeada.
Dias depois um dos filhos morre ao comer uma raiz de mandioca brava. O outro filho foge do infortúnio com comboieiros de cachaça num dos povoados. Com a ajuda de um compadre delegado que encontra no povoado,  Chico e a mulher conseguem chegar a Quixadá, onde reencontram Conceição no campo de concentração. É ela que salva a vida do filho caçula, mas em troca pede a criança para criar.
Depois de muito penar, sem conseguir trabalho para sustentar o que resta à família, Chico consegue, com ajuda da professora, passagens para São Paulo e parte em uma nova aventura na esperança de que, na grande cidade, finalmente vai ter uma vida menos sofrida.


- Eliana Lemos 
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